Apesar da intimidação, o povo foi para as ruas

 

A ideia era passar uns dias na capital da Tunisia e fotografar o que tem de bonito por lá, como os souks, a arquitetura islâmica e a do bairro da Villa Nouvelle e capturar algumas cenas do dia a dia das pessoas, claro. Nada de extraordinário. Mas a data foi da mais impróprias. Cheguei na véspera do 1º de maio de 2012. Fazia pouco tempo que a população tinha protagonizado um levante contra o governo que inspirou outras revoltas no mundo árabe, o que ficou conhecido no resto do mundo por “Primavera Árabe”. O governo do ex-presidente Ben Ali, que caiu por causa, entre outras acusações, de corrupção generalizada. Já havia outro no lugar, eleito pelo povo, que ainda não demonstrava muita satisfação. Sob o risco de novas manifestações mais violentas no feriado trabalhista, o governo resolveu praticamente sitiar Tunis, com veículos militares em cada esquina e arames farpados espalhados por várias calçadas, o que fazia dum prosaico passeio no centro da cidade um risco. Mas até aí tudo bem. A pior coisa é que lá a legislação é taxativa: é absolutamente proibido fotografar qualquer prédio ou agente público, seja civil ou militar. Se isso ocorrer e você for pego pelas autoridades, o melhor que pode acontecer é a perda do equipamento, sem direito a choro nem vela. Então, como sacar uma câmera se, em cada cena que se fosse enquadrar um milico estava presente? Desisti temporariamente de Tunis.

No dia T, o dia do Trabalho, saí logo cedo pra pegar um trem e ir até uma cidade vizinha, Sidi Bou Saïd e ver se conseguia produzir alguma coisa por lá (farei um post sobre essa simpática cidade em breve). Ao meio dia, já estava de volta à capital. Da estação do trem segui pela principal avenida de Tunis, a Habib Bourguiba. Era lá onde estavam o povo e as temidas (pelos governantes) manifestações. A vibração das pessoas era muito boa e todos pareciam muito orgulhosos de terem sido responsáveis por uma transformação no país e com altivez digna de quem é dono de seu destino. No meio das aglomerações, vi alguns caras fotografando e que não tinham coletes oficiais governamentais para Imprensa, depois de um rápido contato descobri que eram universitários de jornalismo. Valia muito a pena também arriscar. Então fiz uma série de fotos das pessoas que estavam naquele 1º de maio, celebrando o trabalho que deu mudar um país.

VEJA A GALERIA DE FOTOS DO 1º DE MAIO EM TÚNIS

NOTA: Como não sou nenhum especialista na escrita árabe, contei com a ajuda especial da Sra. Layal Arous na tradução de algumas faixas e cartazes que aparecem nas fotos. Thank you very much for your help, Mrs. Arous.

 


 
 

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